O presente trabalho tem como objetivo analisar a construção do filme Maré: nossa história de amor, da diretora Lúcia Murat, como ressignificação da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Observa-se através da análise entre as obras, que a peça foi deslocada para o contexto das favelas do Rio de Janeiro, no século XXI, apresentando questões que suscitam importantes reflexões e, simultaneamente, dialogam com a peça do dramaturgo inglês. Partindo de uma concepção pósestruturalista, o filme é analisado como tradução que, mantendo o vínculo com a anterioridade ressignifica a peça a partir da leitura e da interpretação da tradutora. Tomando por base a peça de Shakespeare, considerada como anterioridade da obra analisada, a pesquisa propôs-se observar os rastros e as transformações ocorridas no processo tradutório intersemiótico. Abordou-se, no que condiz aos rastros, a ocorrência da intertextualidade, ressaltando os estudos de teóricos da área de tradução. Ao apresentar um diálogo entre a peça e o filme, a pesquisa problematizou conceitos e perspectivas hierarquizantes e essencialistas que regem a relação comparativa entre as obras, abordando-as como textos autênticos e valiosos. Com o intuito de embasar a abordagem do filme como tradução, foram abordados conceitos como suplemento, rastros, desconstrução, que apresentam uma concepção desse campo de estudos como potência transformadora que contribui para a permanência das obras no tempo e permite ao público brasileiro contato com uma expressão artística que, no período elisabetano era bastante popular.