ENTRE LA DISPARITION E O SUMIÇO DE GEORGES PEREC: TRADUÇÃO ACOMPANHADA DE 25 OU 26 NOTAS DO TRADUTOR

Autor: 
JOSE ROBERTO ANDRADE FERES
Orientador: 
RACHEL ESTEVES LIMA
Banca: 
DENISE CARRASCOSA FRANCA; MARCIA MARIA VALLE ARBEX; ELIZABETH SANTOS RAMOS; JOSE FRANCISCO SERAFIM
Abstract: 
La Disparition (1969), de Georges Perec (1936-1982), roman français écrit sans aucune voyelle e, la lettre la plus fréquente de la langue, a déjà été traduit vers onze idiomes, mais jamais vers le portugais, vers lequel nous le traduisons ici, également sans le e, sous le titre O Sumiço. Cette thèse se présente donc non seulement comme un travail sur la traduction mais également de traduction, proposant au public lusophone le texte traduit en son intégralité et des réflexions sur ce processus traductif. Étant donné que la traduction de tout texte est toujours sujette à des critiques sévères, quelques éclaircissements de la part du traducteur s’avèrent indispensables, d’autant plus quand il s’agit de traduire un texte littéraire dont la principale contrainte est le lipogramme, qui consiste à se priver d’une ou de plusieurs lettres de l’alphabet pour son écriture. Dans le roman en question, l’auteur renonce au e et, en outre, bâtit une narrative tournée justement vers l’acte d’écrire sans la voyelle, ce qui implique des difficultés encore plus grandes pour le traducteur, vu que les jeux de langage qui suggèrent, entre les lignes, la disparition de la lettre interdite se fondent sur des potentialités sonores, visuelles, numériques etc. de la langue française, c’est-à-dire des potentialités diverses de celles de la langue vers laquelle nous traduisons. Ainsi, nous discourons ici sur les choix fondamentaux pour l’élaboration de O Sumiço, des stratégies de traduction basées surtout sur un type de lecture proposée par un personnage d’un autre récit perecquien, 53 Jours, où l’on lit qu’il faut lire entre les livres comme on lit entre les lignes. Or, à partir de cette lecture entre les livres, l’on constate que l’écriture de l’auteur se produit de cette même façon, entre les livres et entre les lignes, d’où le besoin de méthodes de traduction entre les livres, autant entre des livres de littérature, d’autres arts et de théories que entre des textes des genres les plus variés ; et cette nécessité s’amplifie aussi, car il faut mettre en œuvre des stratégies qui nous offrent la possibilité de traduire entre les lignes, entre les mots, entre les chiffres, entre les lettres, entre les langues — entre tout. Ainsi que Perec, en contournant l’interdiction de la lettre à travers son entrediction, en insérant dans La Disparition d’innombrables indices qui entredisent l’interdit, à travers des jeux qui permettent au lecteur d’entrevoir la voyelle disparue, c’est de cette manière que O Sumiço voit le jour, rempli de jeux, qui cherchent pourtant son efficacité parmi les potentialités inhérentes à la langue portugaise, différentes de celles explorées en français. Bref, ce que l’on constate dans ce travail de traduction et sur la traduction, c’est que, avec le but de proportionner à son lecteur une expérience langagière aussi puissante que celle du texte original, le traducteur doit créer de nouveaux jeux, suivant toujours les règles perecquiennes, ou, en d’autres mots (empruntés de Haroldo de Campos) : la machine de la création est implacablement démontée pour être, ensuite, remontée selon les techniques du traduit, dans un processus de transcréation qui fait que la machinerie (et les machinations) de La Disparition ressurgissent dans un corps linguistique divers : O Sumiço.
La Disparition de Georges Perec. Traduction. Transcréation

 

Resumo: 

La Disparition (1969), de Georges Perec (1936-1982), romance francês escrito sem nenhuma vogal e, letra mais frequente do idioma, já foi traduzido em onze línguas, mas jamais em português, idioma para o qual se o traduz aqui, também sem e, com o título O Sumiço. Esta tese se apresenta, portanto, não somente como um trabalho sobre tradução mas, outrossim, de tradução, propondo-se a oferecer ao público lusófono o texto integral traduzido para a língua portuguesa e reflexões a respeito do processo tradutório. Já que a tradução de qualquer texto está sempre sujeita a críticas severas, esclarecimentos da parte do tradutor se mostram indispensáveis, ainda mais quando se trata de traduzir um texto literário cuja principal contrainte (restrição ou regra formal) utilizada é o lipograma, que consiste em se privar de uma ou mais letras do alfabeto. No romance em questão, o autor, além de abrir mão do e, elabora uma narrativa voltada para o próprio ato de se escrever sem a vogal, o que implica dificuldades ainda maiores para o tradutor, dado que os jogos de linguagem que apontam, nas entrelinhas, para o sumiço da letra proibida fundam-se em potencialidades sonoras, visuais, numéricas etc. da língua francesa, potencialidades diversas das da língua na qual se traduz. Assim sendo, expõem-se aqui as escolhas fundamentais para a feitura de O Sumiço, estratégias de tradução que se baseiam, acima de tudo, em um tipo de leitura sugerido por um personagem de outra obra de ficção perecquiana, 53 Jours, onde se afirma que é preciso ler entre os livros como se lê nas entrelinhas. Ora, a partir dessa leitura entre os livros, constata- se que a escrita do autor é produzida da mesma maneira, entre os livros e nas entrelinhas. Por conseguinte, deduz-se que se fazem necessários métodos de tradução entre os livros, tanto livros literários, artísticos e/ou teóricos quanto textos de variados gêneros e espécies; tornam- se igualmente imprescindíveis estratégias que possibilitem traduzir-se nas entrelinhas, entre as palavras, entre os números, entre as letras, entre as línguas — entre tudo. Bem como Perec, sempre driblando a interdição da letra através da sua entredicção, recheando La Disparition com pistas que entredizem o interdito, através de jogos que permitem que o leitor entreveja a vogal sumida, é assim que se dá à luz O Sumiço, com jogos, porém, que buscam sua eficiência em potencialidades distintas daquelas trabalhadas no francês, potencialidades inerentes à língua portuguesa. Dessa forma, o que se constata neste trabalho de e sobre tradução é que, no intuito de possibilitar ao seu leitor uma experiência com a linguagem tão potente quanto a do original, o tradutor deve criar novos jogos, ainda dentro das regras perecquianas, ou, em outras palavras (apropriadas de Haroldo de Campos): a máquina da criação passa por um desmonte implacável e, em seguida, um remonte segundo as técnicas do traduzido, em um processo de transcriação que faz com que o maquinário (e as maquinações) de La Disparition ressurjam num corpo linguístico diverso: O Sumiço.

La Disparition de Georges Perec. Tradução. Transcriação.

 

Data: 
terça-feira, 27 Outubro, 2015 - 01:15