Este trabalho objetivou analisar, com base no Dialogismo de Bakhtin, a ressignificação do mito de Ulisses em Um olhar a cada dia, tradução intersemiótica da Odisseia realizada, em 1995, pelo cineasta Theo Angelopoulos. Enquanto Homero, em seu poema, narra o longo e dificultoso retorno de Ulisses para casa após a Guerra de Troia, Theo Angelopoulos, em Um olhar a cada dia, narra o retorno de A., cineasta grego exilado nos Estados Unidos, após trinta e cinco anos, à Grécia, para a exibição de seu mais recente filme. O seu real objetivo, porém, é encontrar os três rolos não revelados de um mítico filme dos irmãos Manakis, filme que seria o primeiro a ter sido realizado em toda a região dos Bálcãs. Sendo a cultura e a obra literária abertas em significado e estando elas em constante diálogo com o mundo, a cada novo contexto elas renovam-se em sentido. Este trabalho, então, procurou analisar o contexto em que foi feita a tradução de Angelopoulos e sua influência na ressignificação presente em Um olhar a cada dia. Para isso, utilizou o método “narratológico comparativo” proposto por Robert Stam para o estudo de traduções de obras literárias para o cinema, especialmente em relação à observação das afinidades e diferenças temáticas e estilísticas existentes entre a obra literária e a obra cinematográfica.