Procuramos analisar a representação do Padre nas obras naturalistas O Crime do Padre Amaro, do português Eça de Queirós, e O Missionário, do brasileiro Inglês de Sousa. Para tal, primeiramente delineamos a natureza literária da personagem Padre, traçamos um panorama de sua representação na literatura, sobretudo do século XIX, e evidenciamos a influência do anticlericalismo nessa representação, como decorrência dos embates políticos entre a Igreja e as ideologias políticas, filosóficas e científicas do Dezenove. Depois, analisamos a representação do padre concubinado em O Crime do Padre Amaro, mediante os conceitos de outsider, de Norbert Elias e Jonh L. Scotson (2000) e de Howard S. Becker (2009), e estereótipo, de Marcos E. Pereira (2002), identificando a imoralidade como traço característico da caracterização do Pe. Amaro. Através desses conceitos, interpretamos a representação do padre concubinado como uma reação social contra o desvio da disciplina do celibato clerical, que se constitui uma infração aos ideais de masculinidade burguesa e de moral cristã-católica. Por fim, analisamos a representação do padre concubinato em O Missionário, através do conceito de entre-lugar, de Silviano Santiago (2000), identificando os deslocamentos existentes na caracterização de Pe. Antônio de Morais, em relação à representação do Padre no Naturalismo europeu e em toda literatura do século XIX. O conceito de entre-lugar possibilitou interpretar o concubinato do Padre, pela ótica da moral indígena, e não da masculinidade burguesa e da moral cristã-católica. Desse modo, evidenciamos a originalidade do texto de Inglês de Sousa e a atuação dos valores dominantes no Dezenove na representação estereotipada do padre concubinado, atravessada pela imoralidade, nos romances naturalistas.