Este trabalho, proposto no campo de Estudos de Tradução Cultural e Intersemiótica, pretende analisar os mecanismos estéticos e éticos pelos quais foi quadrinizada uma série de contos da Literatura Infantil/Juvenil uruguaia(doravante chamada LIJ) . Entendendo-se a quadrinização como uma das formas possíveis de tradução, a pesquisa refletiu sobre um processo em que a construção de um nome de autor invisibiliza a assinatura do seu tradutor, bem como sobre a maneira como os produtores das obras que aqui serão analisadas traduzem alegoricamente o Uruguai pós-ditadura militar. Esta pesquisa tem como corpus os contos escritos por Roy Berocay e quadrinizados por Daniel Soulier: Ruperto contra el monstruo de Hierro; Ruperto Diet; Ruperto y el extraterrestre; Ruperto y la caja misteriosa; El primer sapo espacial; El gran pescado azul; Una cuestión de tamaño e Ruperto de terror. A análise dos textos, dos pontos de vista da teoria literária e da teoria de quadrinização, aliada aos seus contextos histórico-sociais de produção demonstrou que, mais que uma literatura de entretenimento, a LIJ é também crítica e capaz de traduzir, não só a narrativa de um indivíduo, mas a memória política de um país. Compreender as mudanças histórica recentes do Uruguai permitiu-me ler as alegorias usadas pelos autores para fazer críticas sociais, políticas, econômicas, bem como para perceber o personagem sapo Ruperto como a principal figura alegórica utilizada pelos artistas como dispositivo de suplementação das marcas traumáticas do período ditatorial. Do ponto de vista teórico, houve um exercício de pensamento interdisciplinar, na medida em que este trabalho foi construído colocando em diálogo conceitos dos campos da teoria de literatura e da teoria de quadrinização articuladamente à problemática contemporânea do campo da tradução. Consequentemente, problematizo a produção literária de Roy Berocay a partir da construção de sua "função-autor" (conceito foucaultiano rentável em teoria de literatura contemporânea), mostrando como existe em tensão com o trabalho de quadrinização de Soulier, opacizando-o em sua força tradutória. Atribuir a este o conceito de "função-tradutor", como o faço, constitui um trabalho de política crítica e desrecalque do seu valor estético e ético e o caminho teórico que escolhi para lidar com a problemática da relação entre texto de chegada e texto de partida. Após um exercício de estudo comparativo entre as obras dos dois artistas, concluo que Soulier dialoga criticamente com as narrativas de Berocay, reinventando-as e possibilitando a sua força. Ambos atuam, suplementarmente, no imaginário nacional, criando formas estético-narrativas diferenciais para as questões que discutem no campo da produção artística uruguaia contemporânea.