Objetiva-se, nesta tese, analisar os modos como se configura a repetição na obra ficcional de Clarice Lispector. Elege-se como corpus principal para análise Perto do coração selvagem (1943), A paixão segundo G.H. (1964) e Água viva (1973). A leitura busca isolar em cada obra analisada as vertentes da repetição (simbólica ou automaton e real ou tiquê). Na análise do romance inaugural, enfatiza-se a vertente simbólica da repetição e prioriza o desejo como fenômeno desse mecanismo inconsciente e universal. Em seguida, na análise do romance de 1964, trabalha-se com as duas vertentes e elege a pulsão e a compulsão a repetir como elementos representativos da repetição. Por fim, na leitura de Água viva, isolam-se as duas vertentes da repetição e analisa seus modos de atuação na escrita literária, no próprio fazer artístico. Neste trabalho, articulam-se o material literário com alguns pressupostos advindos da teoria psicanalítica e da Filosofia, numa pesquisa interdisciplinar de natureza bibliográfica. As conclusões apontam para, a partir da repetição, a presença de um gesto afirmativo realizado pelas personagens analisadas. Aliada a esse gesto, existe uma dimensão de gozo que conjuga dor e sofrimento, impelindo as heroínas à procura de uma outra experiência, à busca de novos recomeços. Condenadas a repetir, essas personagens não encaram a vida em seu eterno recomeço como sofrimento, mas, tal qual Sísifo a rolar pedra insistentemente, assumem a dimensão trágica da existência e conduzem sua trajetória numa aceitação alegre e feliz.