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Entrevista com o vampiro: do romance gótico ao filme de terror

Nome do autor: 
Vanessa da Conceicao Davino de Assis
Nome do orientador: 
Elizabeth Santos Ramos
Banca: 
Elizabeth Santos Ramos Ana Maria Bicalho Marlene Holzhausen
Resumo: 

Esta dissertação investiga as estratégias tradutórias presentes na releitura da obra Entrevista com o Vampiro (1976) da escritora norte-americana Anne Rice, para o roteiro cinematográfico homônimo (1994) do diretor irlandês Neil Jordan. Partindo da hipótese de que a linguagem cinematográfica não replica a linguagem literária, mesmo porque são artes diferentes, invalidando, assim, qualquer comparação entre as duas sob a perspectiva da hierarquização, discutiremos os códigos fílmicos que transformaram o conteúdo verbal do romance gótico num filme de terror. Baseadas em teóricos dos Estudos da Tradução como Roman Jakobson (1959) que adotou o termo tradução intersemiótica ou transmutação para a interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais, Gideon Toury (1995) que concentra sua pesquisa na obra traduzida para observar o processo que determina sua concretização e Rosemary Arrojo (2003) que desconstrói a idéia de estabilidade e autenticidade na tradução, examinamos a impossibilidade da fidelidade no deslocamento do livro para tela, à medida que identificamos a mescla de narrativas anteriores diluída em intertextos que se entrelaçam com a criatividade  dos artistas envolvidos na adaptação. Ao apontar as narrativas que ecoam, influenciam e alimentam a obra de Jordan, atestamos que tais histórias partem de fontes múltiplas, heterogêneas, sem uma origem única, fato que comprova que até mesmo a obra de partida consiste numa colcha de retalhos. Teóricos como Gerárd Genette (2006) que trata da intertextualidade como a presença de um texto em outro, Tiphaine Samoyault (2008), que trata dos diálogos e mosaicos de citações que constroem textos nos rastros de outros textos e Robert Stam (1979) que estende a abordagem de Genette para o universo fílmico ao considerar a adaptação uma ramificação intertextual que não alude apenas ao romance no qual foi inspirado, mas possivelmente a outros que vieram antes dele, nos proporciona ferramentas valiosas para a efetuação da nossa análise. A ação de interpretar ou reescrever a história gótica nos leva a aludir o ato do tradutor/cineasta com o do vampiro, já que o tradutor “sangra” sobre sua obra ao mesmo tempo em que “bebe” de diferentes veias a fim de dar vida ao seu produto audiovisual e o vampiro além de drenar sua vítima, também a alimenta com seu sangue sobrenatural, tornando-a imortal. Para desenvolvermos a metáfora tradução/vampirização, o filósofo Jacques Derrida (2006) e a autora Cristina Rodrigues (2000) nos oferecem reflexões que elucidam a idéia da alternância de empréstimos ou sucessivas suplementações realizadas no universo vampiresco, contribuições que prolongam a eternidade das criaturas da noite a cada geração. Ao tempo em que descrevemos a trajetória da entidade vampiresca desde suas raízes folclóricas à sua ascensão a ícone pop, ressaltamos as revisitações ou atualizações que o bebedor de sangue sofreu, através dos meios de comunicação. Apoiadas em autores como J. Gordon Melton (2011) e Rosemary Guiley (2005), verificamos que a ficção vampiresca seja ela fílmica ou literária, está longe de obter seu descanso definitivo, ou ser indiferente a presença dos vestígios de sangue derramado por predecessores que marcaram o palimpsesto vampírico ao longo dos séculos.

Abstract: 

 
This dissertation investigates the translation strategies present in the rereading of American writer Anne Rice’s Interview with the Vampire (1976) for the homonymous screenplay (1994) by Irish director Neil Jordan. Assuming that film language does not replicate the literary language does, since they are different kinds of art, and any comparison between the two from the perspective of hierarchy should be invalidated, we discuss the filmic codes which transformed the verbal content of the Gothic novel in a horror film. Based on the theories of Translation Studies scholars, such as Roman Jakobson (1959) who adopted the term intersemiotic translation or transmutation for the interpretation of verbal signs by means of non-verbal signs systems, Gideon Toury (1995) who focuses his research on the translated work in order to observe the process that leads to the final translated product and Rosemary Arrojo (2003) who deconstructs the idea of stability and authenticity in translation, we examine the impossibility of fidelity in the dislocation of the book to the screen, as we identify a mixture of previous narratives diluted in intertexts which entwine with the creativity of the artists involved in the adaptation. By pointing out stories that resonate, influence and nurture Jordan‘s work, we testify that these multiple source stories are heterogeneous and without a single origin, fact that proves that even the source text is made of a patchwork quilt. Theorists such as Gerárd Genette (2006) who regards intertextuality as the presence of a text in another, Tiphaine Samoyault (2008), who discuss the mosaics of quotations and dialogues that build texts after the track of prior texts and Robert Stam (1979) who extends Genette’s approach to the film universe as he considers adaptation a sort of intertextual branch that besides alluding to the novel on which it was inspired, it also possibly feeds on other texts which came before it, provides us valuable tools for the rendering of our analysis. The action of interpreting or rewriting the Gothic story leads us to relate the act of the translator/filmmaker with the act of the vampire, since the translator “bleeds” on his work as well as “drinks” from different veins in order to give life to his audiovisual product, and the vampire drains and feeds his victim with his supernatural blood to make his prey immortal. To develop the metaphor translation/vampirization, the philosopher Jacques Derrida (2006) and author Cristina Rodrigues (2000) provide us reflections which elucidate the idea of alternating loans or successive supplementations made in the vampire universe, contributions that extend the eternity of the children of the night each generation. While we describe the journey of the vampire entity from its folklore roots to his ascension to pop icon, we stress the revisitations or updates the blood drinker suffered through the media. Supported by authors such as J. Gordon Melton (2011) and Rosemary Guiley (2005) we make sure that the vampire fiction, be it literary or filmic, is far from achieving its eternal rest or being indifferent to the presence of predecessors’ blood trails, which has marked the vampiric palimpsest over the centuries.

Data: 
Friday, 13 April, 2012 - 14:00